Centenas de dias haviam
se passado, mas a bermuda era a mesma, jeans azul totalmente desbotada,
rasgada nas coxas, o zipper não fechava mais, os bolsos furados. A camisa, essa
ele evitava vestir o quanto pudesse, só tinha uma que havia roubado a poucos
dias, a anterior já estava imprestável.
A idade? Treze ou quatorze
uma coisa assim, não fazia muita diferença, pra ele o que importava era viver o hoje. Pela manhã ficava por
perto da padaria, fazia aquela cara de fome e sempre tinha alguém que dava um
pãozinho, um salgadinho, uma coisinha assim.
Viciado? Claro que sim.
Na rua sem cheirar e sem fumar como é que vive?
No semáforo ganha uns
trocados mas tem que ficar esperto, não pode ficar com dinheiro graúdo, esses
ele escondia lá no terreno baldio, atrás da casa abandonada dentro de uma lata,
bem no canto do muro onde o mato cresceu e ficou bem alto. Pirralho, esse
apelido é porque parece que não cresce, não se sabe se é genética ou
desnutrição. O coitado é magro que as costelas parecem piano. Uma vantagem, ele
corre mais veloz que qualquer um, se não fosse isso já teria sido preso umas
duas vezes.
Ele sabe ler? Um pouco,
e escrever o bê-a-bá.
Conheceu uns
malabaristas, ganhavam mais dinheiro jogando bolinha pra cima do que limpando os
vidros dos carros, mas ele não tinha as bolinhas. Gastar as suas economias ou roubar?
Roubar.
Entrou num supermercado
e roubou um pacote pequeno de balões, botou dentro da cueca bem rápido, de
repente o segurança gritou.
- Pega, tá roubando!
Não deu nem tempo,
correu feito doido e se jogou, escorregou entre dois caixas, uma mulher gritou
e quase morre do coração, pensou que ele ia pegar ela. O segurança logo atrás... sem chances. Pirralho já estava lá no meio da rua correndo com os pés batendo na bunda.
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