domingo, 9 de setembro de 2018

Agarradinho

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Para quem foi criança aqui em São Luis na década de 80, cresceu com o reggae pelos quatro cantos da cidade. Não era o samba nem o sertanejo e muito menos MPB, que balançava as grandes massas nas festas da cidade. Eram radiolas enormes, paredões gigantescos de caixas de som, que fazia seu corpo mexer sozinho de tamanha potência, mais de trinta radiolas disputavam entre si, quem seria a melhor e maior, os donos chegavam a viajar para a Jamaica para trazer exclusividades.

Ninguém nesse Brasil imenso sente mais a música do que os maranhenses, pois, arrisco dizer que menos de 1% da população local, domina o inglês, ou seja, é a melodia, o ritmo, a pancada, a “pedra” como é chamado um reggae de sucesso.

Foi pela periferia que o reggae cresceu tanto, o sentimento é tão intenso que dá vontade de agarrar, por isso aqui é dançado agarradinho. O Roots envolvente, “carinhoso”, dançante, suave, a música é rebatizada e passa a se chamar “melo”, Melo de Poliana, Melo de Fátima, Melo de Sônia e por aí vai.

Tudo que nasce na periferia precisa vencer as barreiras do preconceito e da discriminação, cabelo rastafári, as roupas extravagantes com as cores da bandeira jamaicana, o uso da maconha, o estilo de vida “no problem”, era o esteriótipo de um povo que “sentia” na música o bem estar em meio as dificuldades vividas. A intenção não era mudar a realidade, mas amaciar a labuta diária num ritmo que te faz fechar os olhos e flutuar.

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Trinta anos depois tudo mudou, as radiolas sumiram, os clubões extintos. Existem um ou dois lugares sem muito investimento que você pode curtir uma boa “pedra”. O regueiro, aquele cara que usava a calça na altura dos peitos, esse desapareceu. Nos restou a tradição e o legado de “Jamaica Brasileira”. A música nacional atual, sertaneja, pop, rock e funk, mesmo cantada em bom português, está longe, muito longe de promover um movimento de mudanças no comportamento como fez o reggae, mais longe ainda de causar o êxtase causado por cantores como Bob Marley, Peter Tosh, The Gladiators, Alpha Blondy, Eric Donaldson, Jimmy Cliff e um dos mais venerados por aqui, Gregory Issacs.

Aqui vai o Clipe da música que inspirou esse post em homenagem aos 406 anos de São Luis, dia 8 de setembro. Sem a tradução, como nos velhos tempos, o que vale é sentir a “pedrada”, dançar agarradinho e “no problem”.

Segue links de outros sucessos:

Melo de Poliana(Twink Twice, Donna Marie)
Superman(Tarrus Riley)
Coco de Rasta(Alpha Blondy)
Natural Mystic(Bob Marley)
Rebel In Me(Jimmy Cliff)
Johnny B Goode(Peter Tosh)
No Slave(Eric Donaldson)
Hello Carol(The Gladiators)

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