O grito do Ipiranga,
“Independência ou morte!” Lá em 1822, representou a astúcia de Dom Pedro I
diante do governo português e garantiu para si, a monarquia em terras
brasileiras, que iria durar por 67 anos, até a Proclamação da República no dia
15 de novembro de 1889, pelo Marechal Deodoro. Até esse momento não existia
aposentadoria no Brasil na forma que existe hoje, somente para alguns militares
e funcionários públicos após trinta anos de serviço. Contextualizando essa
opção para o início do século XIX, levando-se em conta que a média de vida era
de 35 anos, segundo o IBGE, o grito da república seria “Aposentadoria ou Morte”,
consequentemente, a morte.
Na Europa não era
diferente, porém, na Alemanha existiam movimentos que levaram Otto Bismarck,
chanceler alemão a normalizar a aposentadoria. Por aqui, aconteceu algo bem
pior, o que fazer com os negros que tinham acabado de ganhar a emancipação pela
Lei Áurea?
“Esta é uma história de tragédias, descaso, preconceitos, injustiças e dor. Uma chaga que o Brasil carrega até os dias de hoje” – Gilberto Maringoni.
Sobre a foto, O negro e o membro da elite. O primeiro, descalço, tira o chapéu, em respeito. O segundo parece alheio a quem está ao seu lado. A legenda da foto em Fon Fon nº 6, 18 de maio 1907 é: “Príncipe Dom Luiz [de Orleans e Bragança (1878-1921)] com o banhista Sant’Anna que o ensinou a nadar na praia do Flamengo”. A Abolição manteve libertos em posição subalterna na sociedade. Acervo Gilberto Maringoni
Estima-se que existiam oitocentos
mil escravos em 1889. Alguns anos antes devido a pressão de vários grupos
abolicionistas, o Brasil começou a incentivar os trabalhadores imigrantes para
as lavouras do Sudeste, região que concentrava o maior número de negros, dessa
forma trabalhavam juntos o assalariado e o escravo, com a abolição, o número de
imigrantes triplicou e passou a se tornar abundante mão de obra, enquanto os
ex-escravos “um imenso exército industrial de reserva, descartável e sem força
política na jovem República”.
Já é sabido que as minhas
postagens são curtas e simplificadoras, busco ir direto ao ponto, assim, negros
livres foram lançados a própria sorte, sob forte discriminação e racismo,
indesejados e “desocupados”. Mendigos, crianças de rua, culminou para o
resultado óbvio, a marginalização e aumento da violência. Enquanto a classe
trabalhadora buscava o direito a aposentadoria, aos negros restou a luta pela
vida.
“Por elas vivem mendigos, os autênticos, quando não se vão instalar pelas hospedarias da rua da Misericórdia, capoeiras, malandros, vagabundos de toda sorte: mulheres sem arrimo de parentes, velhos que já não podem mais trabalhar, crianças, enjeitados em meio a gente válida, porém o que é pior, sem ajuda de trabalho, verdadeiros desprezados da sorte, esquecidos de Deus(...) No morro, os sem trabalho surgem a cada canto” – Luiz Edmundo (1878-1961), O Rio de Janeiro do meu tempo.
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