quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Ouro de Tolo


O meu pai perdeu a mãe ainda criança e foi criado por outra família. Não teve uma infância das melhores, mas era cheia de aventuras como ele sempre conta. Deixe-me continuar de onde parei no post anterior, se você ainda não leu, vai lá rapidinho e acompanhe – Post Anterior Aqui

O irmão do meu pai estava em São Paulo alguns anos, entre outros ofícios era metido a compositor. Compôs uma música que através de um conhecido chegou a ser gravada por um sambista, mas ele mesmo não recebeu nada, foi enrolado, prometo que vou descobrir mais sobre isso.

Assim que chegou em São Paulo aquele rapaz simples ficou pasmo com a grandiosidade de uma cidade em plena ascenção, nos anos 70. Pensou em voltar imediatamente, achava que não iria ter sucesso. Com muita insistência do meu tio, aceitou fazer duas entrevistas de trabalho, meu pai era auxiliar de contabilidade, passou nas duas entrevistas e escolheu a que ficava mais próximo para ele.

Algum tempo depois conseguiu um trabalho melhor e precisou mudar-se, porém, o meu pai é o tipo de pessoa, que cativa amigos mesmo sendo silencioso. A minha mãe baseada no endereço da ultima carta partiu para o mundo, seguir o amor da sua vida, viajou três dias de ônibus, do interior do Maranhão até a quarta cidade mais populosa do planeta, imagine o choque. O pior de tudo foi quando ela desceu do táxi, que havia pegado na rodoviária e perguntou pelo seu amor, foi informada que ele não morava mais lá. Tenho certeza que pensou na frase que ouviu do meu avô: “você pode ir, mas se der errado não volte para cá”.

Naquela época, uma mulher sair de casa sem ser casada era uma afronta, ainda mais atrás de homem. Lembra que eu falei que o meu pai cativa as pessoas, então, no desespero da minha mãe, sem saber o que fazer e para onde ir, sem dinheiro e não esqueça que estamos falando de uma época que o telefone fixo era raro, alguém ouviu o nome do meu pai e disse: “ele está aqui, veio passar o fim de semana conosco”, no meio da madrugada, na calçada daquela pensão o choro de desespero tornou-se um choro de alívio e alegria.

Inspiração:.

Ouro de Tolo – Raul Seixas – Clipe Aqui. Raulzito o mágico, para muitos um bruxo. Eu prefiro chamá-lo de mágico pelas músicas que escreveu. Suas ideias para uma sociedade alternativa e a proposta de uma metamorfose social, nos confronta no mínimo a fazermos perguntas tão simples quanto: “consegui tudo o que eu queria, por que não estou feliz?” Afirmo que o meu pai não conseguiu tudo o que desejava mesmo quando ganhava “quatro mil cruzeiros por mês” e conseguiu comprar um Fusca 73, não foi um Corcel como na música, mas foi nesse fusca que ele viajou de volta ao Maranhão, ficou curioso? Irei continuar na próxima postagem. Eu já vi o meu pai agradecer ao Senhor pelo que conseguiu na vida e colocar a família dentro do carro e passear, é uma das coisas que ele mais ama, ainda que seja "ir ao zoológico dar comida aos macacos".

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