sábado, 22 de setembro de 2018

Plantar e Colher


Aproveitando a deixa do refrão da música do post anterior:

“Plante uma semente, plante uma flor, plante uma rosa
Você pode plantar qualquer coisa
Continue plantando pra descobrir qual vai crescer”

Quando falamos de plantar é obvio que lembramos da população rural, que aqui no Brasil tem uma definição muito simples, para não dizer simplória, se você vive na cidade é urbano, e se vive fora é rural. Outros países definem pela quantidade de habitantes e outros pela quantidade de habitantes somado a porcentagem de pessoas ligadas as atividades primárias(agricultura, agropecuária, etc).

Todo conceito é questionável, dentro do meu município, pelo censo de 2010, vivem cerca de 950 mil habitantes, todos urbanos? Sabemos que não. Eu cresci numa zona rural, onde as pessoas faziam remédios caseiros, plantavam e colhiam. Andávamos de carroça, pescávamos e até caçávamos. Banhávamos num córrego, o mesmo que buscávamos água para beber e onde as mulheres lavavam roupas. Logo em frente ao mar, onde aprendi a pescar com rede de arrastão e conhecer o “caminho” das correntes. Pescava sardinha, tainha e camarão, cada um na sua época. Catava sarnambi, sururu e caranguejo, tudo isso a menos de 30 km do centro da cidade.

Lá na zona rural quando escurecia tinha medo das “visagens”, na cidade, dos vilões. Da escola direto pra casa e ouvia cada história, não do “currupira” que assobia meio dia, mas do bandido que invadiu e matou, ou do assaltante que simplesmente atirou. Era a tal da inflação, que demorou para eu saber que não era inflamação. Nas pescarias quando voltávamos para a comunidade, dividíamos de casa em casa. Na cidade, do supermercado direto para a dispensa. No interior minha mãe esquecia de mim, no bairro em que morávamos na zona urbana, queria saber onde eu estava a cada cinco minutos, com medo de eu me drogar ou aprender os mal costume “dozotro”.

Urbano ou rural, tanto faz, aprendi a plantar e colher. Um planta, outro rega e outro colhe. Entrava nas hortas do vizinho, não sei que magia era essa, estavam sempre mais verdes e produziam mais, a espiga de milho era maior, a melancia mais redonda, o feijão com as favas enormes. Colhíamos(escondido, logicamente), comíamos no meio da roça mesmo, só o meio da melancia que é a parte mais doce, depois ouvíamos a notícia que a “cabeça dos ladrões” estava a prêmio.

Nem sempre colhemos o que plantamos, existe a “horta do vizinho”, o importante é entender que precisamos plantar, quando alguém plantou, alguém colherá, sem dúvidas.

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