O que dizer
quando a mente nem consegue mais desembaralhar os pensamentos, confusão e
dúvida, medo e vazio? O que dizer quando a dor é mais comum do que o sorriso? O
que dizer ao amanhecer do dia, depois de tantas noites sem dormir? O que dizer
quando o seu corpo desapareceu e o que restou está em frangalhos? O que dizer
quando o seu presente é sofrimento e o futuro é querer que a dor passe? O que dizer
quando apesar de toda a sua fé, o alívio não chega?
Pouco mais
de dois anos atrás a minha mãe entrou num processo depressivo, nessa época eu
morava em outro estado, Roraima. Já haviam descoberto osteocondrite no tórax, o
que causava muitas dores e a impossibilitava de fazer alguns movimentos. Algum
tempo depois uma tela que havia colocado no abdômen para tratar uma hérnia,
começou a causar dores. Até então continuava com as caminhadas, o seu crochê e
a maioria de suas atividades, mesmo com os tratamentos o processo evoluiu
gradativamente. Alguma coisa bloqueou o metabolismo, mesmo com toda dieta
nutricional, ela continuou a perder peso e entrou na zona vermelha, 38 quilos. Precisou
ser internada, porém, recuperou-se dessa crise. No dia 5 de outubro de 2017,
embarquei num voo de retorno para São Luis – MA, precisava estar mais próximo
dela.
Remédios,
internações e orações caminharam juntos nesse ano que passou. No dia 5 de
outubro de 2018, ontem, minha mãe perdeu a batalha no plano visível desse
mundo. Percebeu as datas? Eu só percebi quando estava no IML aguardando a
liberação do corpo. Ela faleceu com 36 quilos, passava dois terços do dia
deitada, meu ultimo momento com ela ainda viva, foi quando me despedi para ir
ao trabalho e beijei sua testa. Todas as vezes ela dizia “Deus te abençoe e te
proteja”, dessa vez ficou em silêncio, o olhar de quem queria apenas dizer “Adeus”.
O primeiro parágrafo desse texto eu me referia a minha mãe e de como foram seus
últimos dias.
Ainda não
consigo compreender todo esse processo que aconteceu. A partir de um ponto de
vista otimista, talvez ela pudesse ter resistido um pouco mais, batalhado um
pouco mais. Alguns religiosos dirão que faltou fé. Os mais racionais tendem a
perguntar se tentamos tratamento específico ou porque não levamos no médico
tal? Querem saber o que eu entendo? Ela está morta e tudo o que desejava era
alívio.
Cada pessoa
tem o seu próprio entendimento, mesmo que não compreenda todo o processo. Nesse
exato momento, pergunte-se: “o que me traz alívio?” Com essa pergunta você vai
perceber exatamente o quão importante é a sua necessidade. Caso a sua
necessidade seja resolvida com dinheiro, trabalhe. Se for uma companhia,
apaixone-se. Se for saúde, busque tratamento. Se for conhecimento, estude. Seja
o que for que te traga alívio, não esqueça que a vida é construída em ciclos,
geralmente, quando iniciamos uma nova etapa, as necessidades mudam, na próxima
manhã em que eu for trabalhar vou desejar um “Deus te abençoe e te proteja”,
porém, isso não vai acontecer nunca mais.
Assim, desejar
alívio não é egoísmo e muito menos errado, entretanto, quando ele não vem, o
que fazer?
Abaixo deixo
o vídeo de uma das músicas preferidas dela.
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