sábado, 6 de outubro de 2018

ALÍVIO

O que dizer quando a mente nem consegue mais desembaralhar os pensamentos, confusão e dúvida, medo e vazio? O que dizer quando a dor é mais comum do que o sorriso? O que dizer ao amanhecer do dia, depois de tantas noites sem dormir? O que dizer quando o seu corpo desapareceu e o que restou está em frangalhos? O que dizer quando o seu presente é sofrimento e o futuro é querer que a dor passe? O que dizer quando apesar de toda a sua fé, o alívio não chega?

Pouco mais de dois anos atrás a minha mãe entrou num processo depressivo, nessa época eu morava em outro estado, Roraima. Já haviam descoberto osteocondrite no tórax, o que causava muitas dores e a impossibilitava de fazer alguns movimentos. Algum tempo depois uma tela que havia colocado no abdômen para tratar uma hérnia, começou a causar dores. Até então continuava com as caminhadas, o seu crochê e a maioria de suas atividades, mesmo com os tratamentos o processo evoluiu gradativamente. Alguma coisa bloqueou o metabolismo, mesmo com toda dieta nutricional, ela continuou a perder peso e entrou na zona vermelha, 38 quilos. Precisou ser internada, porém, recuperou-se dessa crise. No dia 5 de outubro de 2017, embarquei num voo de retorno para São Luis – MA, precisava estar mais próximo dela.

Remédios, internações e orações caminharam juntos nesse ano que passou. No dia 5 de outubro de 2018, ontem, minha mãe perdeu a batalha no plano visível desse mundo. Percebeu as datas? Eu só percebi quando estava no IML aguardando a liberação do corpo. Ela faleceu com 36 quilos, passava dois terços do dia deitada, meu ultimo momento com ela ainda viva, foi quando me despedi para ir ao trabalho e beijei sua testa. Todas as vezes ela dizia “Deus te abençoe e te proteja”, dessa vez ficou em silêncio, o olhar de quem queria apenas dizer “Adeus”. O primeiro parágrafo desse texto eu me referia a minha mãe e de como foram seus últimos dias.

Ainda não consigo compreender todo esse processo que aconteceu. A partir de um ponto de vista otimista, talvez ela pudesse ter resistido um pouco mais, batalhado um pouco mais. Alguns religiosos dirão que faltou fé. Os mais racionais tendem a perguntar se tentamos tratamento específico ou porque não levamos no médico tal? Querem saber o que eu entendo? Ela está morta e tudo o que desejava era alívio.
Cada pessoa tem o seu próprio entendimento, mesmo que não compreenda todo o processo. Nesse exato momento, pergunte-se: “o que me traz alívio?” Com essa pergunta você vai perceber exatamente o quão importante é a sua necessidade. Caso a sua necessidade seja resolvida com dinheiro, trabalhe. Se for uma companhia, apaixone-se. Se for saúde, busque tratamento. Se for conhecimento, estude. Seja o que for que te traga alívio, não esqueça que a vida é construída em ciclos, geralmente, quando iniciamos uma nova etapa, as necessidades mudam, na próxima manhã em que eu for trabalhar vou desejar um “Deus te abençoe e te proteja”, porém, isso não vai acontecer nunca mais.

Assim, desejar alívio não é egoísmo e muito menos errado, entretanto, quando ele não vem, o que fazer?  

Abaixo deixo o vídeo de uma das músicas preferidas dela.





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